Ouçamos Reginaldo

 
O Norte – João Pessoa, terça-feira, 22 de fevereiro de 2000

 

Ouçamos Reginaldo!…

Evandro da Nóbrega

 

Seria bom que a Paraíba desse sua decisiva ajuda para fazer cessar a peregrinação insólita a que o Brasil submete faz anos o paraibano Reginaldo Marinho. Ex-presidente nacional da Associação Brasileira dos Inventores e da Propriedade Industrial, autor de artigos sobre temas afins, consultor de marketing e professor de geometria descritiva, vivendo no Sudeste e Brasília, Reginaldo criou o Construcell, “moderno método de construção autoportante, que utiliza dois fundamentos da engenharia: a treliça e o arco de compressão, permitindo a construção de grandes vãos sem a necessidade de estrutura metálica ou e concreto, mas com as características de cascas cilíndricas”.

Em vão amarga ele a odisséia de percorrer ministérios em busca de apoio para a invenção, sem paralelo no Mundo. Tenta mostrar a uns e outros que seus módulos “são construídos em polímeros injetados, em forma de prismas triangulares, auto-estruturados, cujo fundo é um triângulo eqüilátero, com duas faces ortogonais e a terceira inclinada com relação à base, o que define a curvatura cilíndrica”. Como explica, “o tamponamento desses prismas cria colchão de ar, oferecendo ótimo conforto térmico”, porque “as resinas modernas podem ser protegidas contra as ações dos raios UV e do fogo, tornando essas construções seguras, leves e belas”.

A estrutura “pode usar pigmentos de cores variadas ou até ser transparente, como o policarbonato, em seu estado original”. Fabricados em plástico, os módulos são perfeitamente articulados e desenhados para resistir a ventos até 120km/h. Ensaio realizado por programa de análise estrutural obteve coeficientes de segurança superiores a 2.8. Essas construções “podem se destinar ao uso em ginásios esportivos, hangares, armazéns, galpões indústria, silos, estufas para piscicultura, casas de vegetação e coberturas as mais diversas, em especial projetos envolvendo a energia solar”.

“Nosso complexo de armazenamento tem déficit de 10 milhões de toneladas e a falta de armazéns reduz sensivelmente a força comercial dos pequenos e médios produtores rurais”, justificando-se o uso do Construcell, “aplicável na construção de armazéns, silos e estufas”. Tudo foi apresentado sem êxito ao Governo Federal, desde 1998, embora tal tecnologia “pudesse equacionar rapidamente o déficit de armazenagem”, já que “permite erguer coberturas de grandes vãos transparentes, adequadas à implantação de placas fotovoltaicas, o que viabiliza a captação de energia solar em regiões remotas”. Com relação ao esporte e lazer, “pode ser usado em ginásios e quadras esportivas, centros de convenções e espaços culturais”.

Também na indústria, viabiliza-se a idéia por permitir “a construção de amplos vãos livres, possibilitando a instalação de plantas industriais modernas, sem colunas internas”. Igualmente propício ao uso militar, o Construcell, de montagem rápida, “tem as vantagens das características mecânicas e físicas do policarbonato, resultando em construções robustas, resistentes a disparos de projéteis, com resultados já aferidos através e testes balísticos. Pode da mesma forma ser usado em hangaretes, paióis e alojamento de emergência. no que respeita à aviação, o Construcell “permite construir hangares, galpões para armazenagens de cargas”. O mesmo ocorre com relação a templos religiosos, “que podem ser erguidos totalmente livres de colunas internas”.

Com tantas vantagens, o Construcell não sensibiliza Ministérios. Depois de “bater em tantas portas fechadas”, Reginaldo pressente que a significativa descoberta pode ser patenteada nas estranjas. Paciência tem fim e ele se decidiu pelo “exílio voluntário”: regressou à Paraíba, com a amargura que o Padre Azevedo sentiu ao ver seu protótipo de máquina de escrever pirateado por sabidos irmãos ianques. “já realizei quatro conferências na UnB sobre minha tecnologia. O produto é também valiosa contribuição acadêmica, vez não existir nenhuma literatura mundial sobre estrutura de plástico. A Engenharia conhece apenas três modalidades de estruturas: de madeira, metálica e de concreto”.

Há tempos, oferece ele o invento ao Governo brasileiro, mas “não houve receptividade e resolvi protocolar, em 25/08/99, documento oficialmente ao Governo central (para ser usado no pavilhão do Brasil na Expo 2000, em Hanôver) a revolucionária tecnologia que desenvolvi, com pedido de patente em 32 países”. E, “se essa tecnologia receber placas fotovoltaicas em toda a superfície ou injeção de gás neon, freon ou qualquer outro que se ilumine na presença de descarga elétrica, resultando em construção inteiramente luminosa, transformar-se-ia no ponto de maior atração da Expo”.

O projeto mostraria lá fora que o Brasil é capaz de produzir tecnologia mundial gerando emprego e renda. Sua exportação traria divisas para o País, inclusive porque “produzimos 11 mil ton/ano de policarbonato e a implantação essa tecnologia criaria uma demanda de 100 mil”. Reginaldo lembra ”vários exemplos de inventores e cientistas que perderam patentes por falta duma política de valorização da tecnologia nacional: Santos Dumont (avião), Pe. Azevedo (máquina de escrever), Pe. Landell de Moura (rádio), Nélio Nicolai (Bina), Sérgio Ferreira, professor que sofreu pesquisando os efeitos do veneno da jararaca nos humanos, só para ver o trabalho, após publicar seus resultados, patenteado por laboratório europeu que fatura US$ 1,5 bilhão anuais com tal patente. “O BC e o pesquisador deixam de receber US$ 30 milhões por ano em função desse descaso. Até quando perderemos nossos inventores, cientistas e patentes?”.

Não há por aqui um cristão que possa ao menos ouvir Reginaldo?

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