Déficit de armazenagem

Grãos: Déficit de armazenagem pode chegar a 20 milhões de toneladas

Enquanto o setor agrícola comemora a segunda maior produção de grãos no Brasil, produtores e instituições relacionadas principalmente ao milho esperam para 2011 graves problemas com a armazenagem, quando cerca de 20 milhões de toneladas podem ficar do lado de fora dos silos
  

 

 Atualmente, os entraves com a comercialização do grão, devido aos baixos preços, e a colheita recorde de soja, que deveria ocupar o lugar do milho nos armazéns, já têm mostrado que os depósitos brasileiros não comportam o volume a ser escoado.

Para Jason de Oliveira Duarte, pesquisador e economista agrícola da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o problema enfrentado hoje com a armazenagem do milho é apenas a ponta de um iceberg, que deve ganhar proporção maior no próximo ano. “O estoque de passagem de 2009 para 2010 está atrapalhando a questão da armazenagem. Se, no fim desta temporada, o estoque final de milho ultrapassar 10 milhões de toneladas será catastrófico”, diz.
 
Segundo Duarte, a produção de soja e milho deste ano pode atingir os 120 milhões de toneladas. “O limite de armazenagem é de 110 milhões de toneladas”.
 
De acordo com o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de grãos de 2009/2010 deve se aproximar dos números da temporada 2007/2008, quando o País bateu recorde de produção com 144,1 milhões de toneladas. Para este ano, são esperados 143,9 milhões de toneladas, puxados pela soja, cujo volume previsto é de 67,57 milhões de toneladas. Já o milho, da primeira e segunda safra, deve render 51,38 milhões de toneladas.
 
Números da Conab apontam ainda um estoque de passagem inicial de milho de 11,210 milhões de toneladas e final de 8,149 milhões de toneladas. Já o estoque final da soja deve ultrapassar 4,7 milhões de toneladas.
 
Segundo Flávio Roberto de França Júnior, diretor de produção da Safras & Mercado, como neste ano, em 2011, o Brasil deve esperar grandes estoques de milho e soja somados à safras cheias. “As dificuldades com armazenagem vão piorar. Há dúvidas sobre a absorção do excedente de soja.”
 
Para Júnior, pode haver de imediato uma aceleração das exportações de soja, mas não um aumento de comercialização externa. “Mesmo com a recuperação da economia mundial, boa parte da demanda já foi atendida pelos Estados Unidos”, diz.
 
Quanto a comercialização internacional do milho, a Conab estima vender 8 milhões de toneladas. “Se não exportarmos tudo o que está previsto este ano, 2011 sofrerá as consequências”, prevê o pesquisador.

De acordo com Duarte, além da boa safra norte-americana, os argentinos também devem ganhar destaque no ranking das colheitas recordes. “Precisamos ir atrás de importadores mais favoráveis ao nosso produto, como países da América Latina.”

João Carlos Werlang, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), acredita que pode haver redução de área na próxima safra de milho, tanto por conta da falta de armazéns, quanto pelos rumores de que o governo vai reduzir o preço mínimo do milho. “A Abramilho não gostaria que isso ocorresse, mesmo porque temos tecnologia para produzir”, diz.

Para Duarte, o produtor pode diminuir área na safra de verão para tentar compensar na safrinha, mas o pesquisador aposta na utilização de áreas marginais para a produção e uso de tecnologias antigas. “O setor precisa de políticas de incentivo ao preço do milho. Alguns financiamentos de produção, o governo federal já faz. Agora seria necessário favorecer a comercialização”, afirma.

Segundo o presidente da Abramilho, o governo federal deveria ter estoque regulador do produto e garantir um preço mínimo.

Júnior e Duarte concordam que o País necessita de mais espaço para armazenagem. “Não importa como, o que precisa é incentivo neste sentido”, afirma o pesquisador. De acordo com Júnior, o setor precisa de planejamento de longo prazo. “O que é carência histórica brasileira”, diz.

Para o diretor, se o País almeja se tornar um grande player no comércio internacional, é preciso ter estrutura. “Reduzir área é contra a natureza do produtor e não ter onde guardar é um absurdo”.

 Fonte: ExpressoMT