Núcleo de gênios

Gazeta do Nordeste, Segunda-feira, 27 de agosto de 2001

Inventores querem criar ´núcleo de gênios´

 

Idéia é reunir, em um único local, cientistas que não possuem apoio para desenvolver experiências em seus estados de origem

Patrícia Teotônio* de João Pessoa

O inventor paraibano Reginaldo Marinho apresentará ao Governo do Estado um projeto para a criação de um ´núcleo de gênios´, que reunirá cientistas e inventores brasileiros que não vem encontrando apoio para desenvolver suas experiências em seus estados de origem. Reginaldo Marinho, ex-presidente da Associação Brasileira de Inventores e da Propriedade Industrial, conquistou prêmios internacionais ao desenvolver uma nova tecnologia para o setor de construção civil, mas como muitos outros profissionais, não conseguiu colocar sua invenção em prática por falta de apoio do governo brasileiro.

Marinho informou que já manteve contato com o reitor da Universidade Federal da Paraíba, Jader Nunes, e que este teria demonstrado grande interesse em apoiar a idéia. Na Alemanha, uma iniciativa semelhante a este projeto já está em desenvolvimento.

Marinho defende a criação desse ´núcleo de cérebros´ porque acredita que isto mudaria radicalmente a situação da produção científica e do patenteamento de invenções no País. O Brasil, que detinha cerca de 30 patentes aprovadas há 20 anos nos Estados Unidos, hoje contabiliza apenas 96, enquanto países como a Coréia, que se dispuseram a investir mais nesse setor, já soma cerca de 3.200 aprovações.

A produção tecnológica brasileira é insignificante e apresenta um índice vergonhoso no que se refere à aprovação de patentes. A situação é tão caótica que as instituições públicas recebem recursos que chegam atingir 1,4% do PIB nacional e obtêm uma conversão de 0,3 patentes anuais por cada núcleo produtor. Isso é um absurdo´, denuncia.

Na prática, o projeto propõe a formação de uma comissão composta por membros do Estado, Universidade Federal e Sebrae. Essa comissão ficaria encarregada de analisar todos os projetos tecnológicos que fossem apresentados e verificar a viabilidade de desenvolvimento. A análise levaria em conta fatores como eficácia tecnológica, condições para execução e necessidades de mercado.

Para viabilizar os projetos, Marinho sugere que se crie uma linha de crédito através do BNDES. ´O banco já tem uma linha para o desenvolvimento tecnológico, mas voltada principalmente para projetos de geração de energia. ´O governo que implantar esse programa estará na vanguarda de uma postura que ajudará no desenvolvimento do Estado e do País, e que é inevitável, pois a expansão tecnológica é uma tendência mundial´, explica.

Distrito

Uma vez implantado, o programa criaria uma espécie de distrito tecnológico, onde ficariam as instalações físicas para o desenvolvimento dos projetos aprovados pela comissão de avaliação e, posteriormente, poderia alcançar tanto respaldo quanto o Pólo de Informática de Campina Grande.

Marinho informou que já entregou um resumo do projeto do núcleo de gênios ao presidente da Cinep (Companhia de Desenvolvimento da Paraíba), Edivaldo Nóbrega, que se encarregará de apresentar ao governador José Maranhão.

Segundo o pesquisador, as estatísticas do país em relação a produção tecnológica são bastante desanimadoras. ´A produção científica brasileira atinge apenas 1% da produção mundial e essa posição identifica que o Brasil tem um comércio mundial de tecnologia equivalente a 0,005% do PIB nacional, enquanto nos EUA a comercialização de tecnologia equivale a 4% do PIB americano´, compara. Na América, 30% dos cientistas estão atuando nos centros de periferia e 70% no setor privado. No Brasil ocorre o contrário e 90% dos cientistas encontram-se atuando nas instituições públicas.

A iniciativa quer evitar casos como o do próprio Marinho, que desenvolveu o Construcell, um sistema de construção que utiliza estruturas de plástico mais baratas em relação às  convencionais, de madeira, metal ou cimento armado. O projeto não recebeu apoio do governo brasileiro, mas foi premiado em Genebra e provavelmente será desenvolvido na Itália. O novo produto combate também o grande inimigo da construção civil – o desperdício (box ao lado).

* Especial para a Gazeta do Nordeste

Construcell ganha prêmio internacional

O Construcell utiliza dois fundamentos da Engenharia: a treliça e o arco de compressão, permitindo a construção de grandes vãos sem usar nenhuma estrutura metálica ou de concreto, com as características de cascas cilíndricas.

Os módulos são construídos em polímeros injetados, com patente requerida no Brasil e em mais de 32 países, em forma de prismas triangulares, auto-estruturados, cujo fundo é um triângulo eqüilátero, com duas faces ortogonais e a terceira inclinada com relação à base. Esta inclinação é que definirá a curvatura cilíndrica. O tamponamento desses prismas cria um colchão de ar e oferece ótimo conforto térmico

As resinas modernas podem ser protegidas contra as ações dos raios UV e do fogo, tornando essas construções bastante seguras, muito leves e belas. Pode-se usar pigmentos de cores variadas, podendo ser transparente como o policarbonato em seu estado original.

Os módulos, fabricados em plástico, são articulados e foram desenhados para resistir a ventos até 120 km/h e na Análise Estrutural, foram obtidos coeficientes de segurança superiores a 2.8

Na verdade, o Construcell assimila-se a um lego (jogo de encaixe para crianças), só que em grandes proporções. Como as peças se encaixam umas nas outras, e não são quebradas, não há sobras e, conseqüentemente, desperdício.

Com esse tipo de material é possível construir galpões, casas e vários tipos de edificações. ´A montagem é rápida e realizada com mão-de-obra reduzida, vantagens que facilitam principalmente a implantação de projetos emergenciais em casos de catástrofes e abalos sísmicos, que demandam a rápida construção de abrigos´, ressaltou Marinho.

Embora não tenha obtido nenhum  apoio para concretizar sua invenção no Brasil, Reginaldo conseguiu o reconhecimento no mercado europeu. e ganhou medalha de ouro, no ano passado, no Salão Internacional de Invenções da Europa, realizado na Suíça. Recebeu, ainda, oferta do Fundo de Desenvolvimento Tecnológico (Fondetec), de Genebra, e propostas de empresas européias, da África do Sul e da Austrália.

Entre as opções, preferiu ir para a Itália, onde espera conseguir desenvolver sua tecnologia com o apoio de empresas de lá. Ele informa já ter recebido um pedido de orçamento feito pela prefeitura de Milão e espera fechar contrato para fazer a primeira construção em policarbonato do mundo. (P.T.)

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