Núcleo de gênios na Paraíba

O Norte – João Pessoa, domingo, 04 de novembro de 2001

Núcleo de gênios na Paraíba

Reginaldo Marinho, paraibano de Sapé, luta para colocar o Estado
da Paraíba no cenário nacional da inovação tecnológica

Fabíola Monte
Repórter

O sertanejo é acima de tudo um forte. A citação de Euclides da Cunha em “Os Sertões”, parece se encaixar perfeitamente na personalidade de todos os nordestinos e principalmente na do obstinado paraibano de Sapé,Reginaldo Marinho, inventor dos bons, que não desiste do sonho de colocar a Paraíba no cenário nacional da inovação tecnológica, sem perceber que já a colocou no internacional, quando ganhou, no ano passado, a medalha de ouro do 28º Salão de Invenção de Novos Produtos da Europa, em Genebra, onde concorreu com mais de 600 inventores de 44 países, e também em outra oportunidade, quando abiscoitou outra medalha de ouro no “BBC Tomorrow’s World Live”, em Londres.

Depois de todas essas conquistas lá fora, ele agora quer expor à intelectualidade paraibana, aos homens do governo e aos empre-sários locais o seu projeto de criação de “Núcleo de Gênios”, nos mesmos moldes do que ele já propôs ao Partido Forza Itália, vencedor das últimas eleições naquele país. A diferença é que o da Itália, semelhante ao que já existe nos Estados Unidos e Inglaterra, é de âmbito internacional, onde se investe na criação tecnológica, mesmo que seja desenvolvida por cidadãos de outros países.

O daqui reunirá cientistas e inventores brasileiros que não vem encontrando apoio para desenvolver suas experiências nos estados de origem, situação já experimentada pelo próprio Reginaldo Marinho, quando foi premiado fora do país, pela criação do Construcell, que ele não conseguiu colocar em prática por aqui, por falta de apoio governamental.

Na prática, o projeto propõe a criação de uma comissão composta por membros do Estado, Universidade Federal e Sebrae, que teria o encargo de analisar os projetos tecnológicos que fossem apresentados e verificar a viabilidade de desenvolvimento. Seriam levados em conta fatores como eficácia tecnológica, condições para execução e necessidades de mercado.

Para a viabilização do “Núcleo de Gênios”, Marinho sugere que se crie uma linha de crédito através do BNDES, nos moldes da que já existe, voltada para projetos de ge-ração de energia. “Se a idéia for acatada na Paraíba, isso dará uma dimensão nacional ao atual governo, e o Estado aparecerá na vanguarda nacional do setor tecnológico, sem falar que a implantação do programa vai puxar recursos federais e possibilitar geração de riquezas, de empregos e principalmente de auto-estima”, garante Marinho.

Uma vez implantado, o programa criaria uma espécie de distrito tecnológico, que serviria de sede às instalações físicas do “Núcleo de Gênios”, onde seriam desenvolvidos os projetos aprovados pela comissão de avaliação.

Marinho informou que já manteve contato com o reitor Jáder Nunes, da UFPB, tendo ele demonstrado interesse no projeto. O Sebrae e a Secretaria de Indústria e Comércio, segundo declarações de Reginaldo Marinho, também já manifestaram empenho em viabilizar o projeto, buscando parcerias. A Cinep teria sido outra convidada a se incorporar ao projeto do incansável inventor.

Construção inovada

A invenção do paraibano, ganhador de duas medalhas de ouro no exterior, trata-se de um sistema de construção baseado em módulos de prismas, com o qual se pode construir grandes vãos, como galpões, silos, academias, ginásios e abrigos, sem utilização de nenhuma estrutura convencional (concreto, madeira e metal).

Ele utiliza tecnologia e instrumentos de engenharia mundialmente conhecidos desde os etruscos. “Como o arco de compressão, que já era empregado pelos etruscos e romanos nas mais diversas construções, como palácios, pontes e catedrais. Sempre com o objetivo de permitir que cada bloco pressionasse um outro, para a construção ganhasse muito em compressão e evitasse o risco de cair”, explica Marinho. Ele esclarece ainda que outro fundamento da engenharia utilizada nos Construcell é a treliça, que dá às construções uma estrutura muito rígida.

Do ponto de vista econômico, a vantagem oferecida pela estrutura de policarbonato é que qualquer construção de armazéns, silos, hangares, edifícios e casas populares custaria 30% a menos que as construções com estruturas convencionais, sem contar que, por levar para a obra exatamente o número de peças que vai utilizar, não existe sobra de materiais e após o final da construção, o lugar fica limpo.

“A atração de cérebros mudaria radicalmente a situação da produção científica e do patenteamento de invenções no país”, explica Marinho, afirmando que o Brasil sofre de falta de vocação para desenvolvimento de tecnologia própria. “Em 1999 a Fundação Getúlio Vargas apresentou uma pesquisa inédita, onde números apontaram para o atraso tecnológico do Brasil. Só para se ter idéia do desinteresse político brasileiro em desenvolver tecnologia, enquanto os Estados Unidos movimentaram 4% do seu PIB (Produto Interno Bruto) com exportação e importação de tecnologia, o Brasil ficou na casa dos 0,005%” ressalta. Outro dado informado pelo inventor é o da situação dos cientistas. Enquanto 30% deles estão nas universidades americanas e 70% nas empresas privadas, no Brasil, 90% dos cientistas encontram-se nas universidades e apenas 10% estão na iniciativa privada.

“No relatório da Inventiva Nacional, produzido pelo Ministério da Indústria e Comércio, foi revelado que em nove anos, os 14 centros de pesquisa investigados produziram apenas 112 patentes, sendo que 60% são do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) e dividindo-se o restante pelas outras 13 instituições teremos 0,3 por ano, por instituição”. Reginaldo expõe esses dados para demonstrar através de números o “profundo desinteresse brasileiro por criação de tecnologia”.

Segundo divulgou a Revista Veja, recentemente, a situação da Coréia do Sul, vinte anos atrás, era semelhante a do Brasil, em processos tecnológicos. Os dois países tinham quase exatamente o mesmo número de patentes depositadas nos Estados Unidos: em torno de trinta. No ano passado, o Brasil possuía 96, enquanto a Coréia havia ultrapassado a marca das 3 mil. E Reginaldo Marinho vai além. “Temos mesmo casos escandalosos de descobertas e invenções feitas por brasileiros, expropriadas e exploradas indevidamente por empresas e grupos internacionais, sem que nosso governo esboce sequer uma reação de protesto”.

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