Mentes que brilham

Correio da Paraíba

Paraíba, Domingo 19 de agosto de 2001
Mentes que brilham
Paraíba poderá criar Núcleo Internacional de Gênios para estimular pesquisas científicas
Chico Noronha

A Paraíba poderá abrigar um “núcleo de cérebros”, com cientistas e inventores de todas as partes do mundo que se encontram desvalorizados em suas próprias nações de origem. Exatamente como acabam de oficializar o Governo alemão e pensam em tornar realidade dentro em breve os italianos, movidos pelo polêmico Sílvio Berlusconi e o movimento direitista Força Itália. Quem defende essa proposta é o paraibano atualmente radicado em Milão, na Itália, Reginaldo Marinho, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Inventores e da Propriedade Industrial, que desenvolveu uma tecnologia revolucionária em estrutura de plástico (policarbonato).

Ele disse que já esteve duas vezes com o governador José Maranhão para tratar do assunto que colocaria o nosso Estado no mapa-mundi das pesquisas científicas e afirma ter conquistado o aval do reitor da UFPB, Jader Nunes, que de pronto teria colocado os estudiosos daqui inseridos nesse projeto transformador da realidade regional em que nos encontramos: de quase distanciamento das decisões políticas sobre quais os projetos o Brasil deve priorizar e investir nessa área e conseqüentemente dos equipamentos, cursos de aperfeiçoamento, e recursos financeiros para que se possa efetivar um trabalho melhor estruturado.

Reginaldo mora e trabalha na Itália desde abril do ano passado e conquistou uma medalha de ouro no Salão 2000 de Invenções de Genebra, na Suíça, considerado o evento mais importante em termos de exibição de invenções no plano internacional. Ele apresentou naquela vitrine uma tecnologia que serve para construção de ginásios esportivos, hangares, escolas, espaços culturais, armazéns, silos, e outras aplicações sem utilizar nenhuma estrutura convencional. Recusou propostas de trabalho dos governos da Austrália, África do Sul e Suíça e na semana passada recebeu um pedido de orçamento para a primeira construção do mundo feita toda em policarbonato, de um sindicato de uma comune (prefeitura municipal) da província de Milano, na Itália, onde sempre desejou radicar-se.

O Núcleo de Cérebros não representa novidade no mundo moderno, considerando-se que países como a Inglaterra e o Canadá já vivenciam essa experiência. O que importa mesmo é que esse centro de pesquisas mudaria radicalmente a situação desse setor em nosso país: o Brasil tinha cerca de 30 patentes aprovadas há 20 anos nos Estados Unidos e hoje contabiliza apenas 96, enquanto países que investiram mais seriamente já somam cerca de 3200 aprovações, como é o caso da Coréia.

Interesse do Governo

Estamos prontos para entrar nessa guerra – foi essa a reação de José Fernandes, secretário da Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia, ao confirmar que o Governo paraibano tem conhecimento da proposta defendida por Reginaldo Marinho e que envidará todos os esforços para reunir em nosso Estado tantos cérebros quantos se mostrarem interessados em formar aqui um “Núcleo de Gênios”.

José Fernandes destacou que já se encontrou duas vezes com o inventor paraibano e que sua proposta, inclusive, está sendo analisada no âmbito da CINEP- Companhia de Industrialização do Estado da Paraíba.

Para que tal projeto saia do campo das idéias e vire realidade José Fernandes sugere que Marinho volte a procurar técnicos e dirigentes dos órgãos estatais que militam na área da tecnologia: “sem dúvida, com sua experiência, atuando até mesmo numa entidade representativa da sua categoria, ele tem muito a contribuir. Além de tudo isso, o que nos interessa é firmarmos parcerias que ajudem cada vez mais a Paraíba a crescer”.

O secretário estadual tem conhecimento da nova postura adotada recentemente pelo governo da Alemanha e defende que o governo paraibano tem demonstrado todo o interesse em fomentar esse tipo de atividade.

Aprovação de patentes

A produção tecnológica brasileira é insignificante e apresenta um índice vergonhoso no que se refere à aprovação de patentes. A situação é tão caótica que as instituições públicas recebem recursos que chegam atingir 1,4% do PIB nacional e obtém uma conversão de 0,3 patentes anuais por cada núcleo produtor. Isso é um absurdo, quem pensa assim é o inventor paraibano Reginaldo Marinho, atualmente radicado na Itália, onde chegou a sugerir ao conglomerado que partidos que levaram Sílvio Berlusconi de novo ao poder político a desenvolver um projeto de agrupamento e real incentivo de cientistas e inventores de todo o mundo em terras italianas.

A idéia de Reginaldo Marinho foi assumida recentemente por outro importante povo europeu, haja vista que o governo alemão propôs que seu país receba pelo menos 50 mil imigrantes por ano como forma de suprir a carência de mão-de-obra devidamente especializada Esse projeto acontece justamente num momento em que eclode na Europa o aprofundamento do debate sobre uma maior abertura da imigração e conseqüentemente da fuga dos chamados cérebros pensantes e criativos dos países mais pobres.

Sem vocação

Não existe uma vocação brasileira para saber lidar com tecnologia própria, acrescenta Reginaldo Marinho, que estudou ainda Comunicação Social durante a ditadura militar, no Distrito Federal, e mostrou exposições fotográficas suas em diversos pontos do Brasil. Ele afirma que embora já tenha realizado palestras no mestrado de estruturas e no curso de arquitetura da Universidade de Brasília, no Instituto de Desenho Industrial, ele quer manter o distanciamento do meio acadêmico, até o momento em que a Universidade não restabelecer uma via de mão dupla com o conjunto da sociedade.

Reginaldo destaca ainda que o que ocorre no mundo hoje em dia é totalmente inverso ao que acontece no Brasil. Para se ter uma idéia, há cerca de 20 anos, quando o mundo passou a falar sobre os tigres asiáticos, a Coréia tinha 30 patentes registradas nos Estados Unidos e agora alcança a marca das 3200 patentes enquanto o Brasil não passa das 96. Poderia Ter 97, caso a desenvolvida por Reginaldo Marinho já tivesse sido aprovada. Isso revela que a orientação coreana estava correta ao investir bem mais em educação e pesquisa, visando o desenvolvimento tecnológico.

Sabe-se que a produção científica brasileira atinge apenas 1% da produção mundial e essa posição representa uma larga produção para um país periférico, mas se avaliarmos ao mesmo tempo os resultados dessa produção com os olhos voltados para a questão tecnológica perceberemos que o Brasil tem um comércio mundial de tecnologia equivalente a 0,005% do PIB nacional, enquanto nos Estados Unidos a comercialização de tecnologia equivale a 4% do PIB americano.

Nos EUA 30% dos cientistas estão atuando nos centros de pesquisas e 70% no setor privado. No Brasil ocorre o contrário e 90% dos cientistas encontram-se atuando nas instituições públicas e apenas 10% no segmento privado. Essa situação demonstra o desinteresse do empresariado nacional, habituado a adquirir tecnologia já em desuso pelos países fornecedores, gerando com isso uma baixa competitividade na indústria nacional.

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