Inventor tenta recursos para montar casa de plástico

Gazeta Mercantil Distrito Federal

Brasília, terça-feira, 10 de dezembro de 1998 

Inventor tenta recursos para montar casa de plástico

Fernanda Lambach

Silos, galpões, hangares, estufas, ginásios e até casas populares podem ser construídas com plástico (policarbonato). Além de muito resistente a impactos, a resina pode tornar o preço das obras mais barato. É o que garante o autor do projeto, o inventor paraibano Reginaldo Marinho. Autodidata, ele iniciou os cursos de Engenharia na Universidade Federal da Paraíba, Arquitetura na Universidade de Brasília (UnB) e Comunicação no Ceub, mas não se formou em nenhuma das três áreas. Diz ter preferido a liberdade da criação à burocracia acadêmica.

Bastante polêmico, o inventor estará debatendo seu projeto hoje, a partir das 16h, no anfiteatro do Departamento de Engenharia Civil da UnB. O nome da conferência é “Construção de Cascas Auto-Portantes com Módulos Prismáticos de Policarbonato”.

As construções idealizadas por Marinho seriam formadas por módulos prismáticos com três lados de 50cm (a base é um triângulo eqüilátero) e 10 cm de profundidade. Emendados como em um mosaico, presos geometricamente uns aos outros por parafusos ou solução que os cole definitivamente (cloreto de metileno). A inclinação e uma das faces dos módulos é o que garante a convergência da estrutura para um eixo central, dando aspecto arredondado à construção e a sustentando. No caso dos prismas serem montados com parafusos, em construções móveis, Marinho sugere que as faces das estruturas sejam vedadas com substâncias à base de silicone para evitar possíveis problemas com goteiras, por exemplo.

O inventor ainda não conseguiu recursos financeiros para fazer um protótipo. Segundo ele, o maior problema é que a construção das cascas não pode ser feita em escala reduzida, em uma primeira experiência. “Em escala reduzida não há como garantir a precisão angular que sustenta a construção”. Enfatiza Marinho. Um primeiro teste teria de ser feito em construção de no mínimo 12m por 10m.

Falta porém, quem patrocine os moldes em aço que servirão de forma para os primas em resina. Os moldes têm de ser cortados com exatidão de acordo com as medidas estabelecidas por Marinho. A máquina ideal para fazer o corte é a fresa digitalizada, que o inventor não sabe onde conseguir nem tem recursos para adquirir.

Com os moldes prontos, o problema do protótipo estaria resolvido. Marinho diz ter relacionamento com empresas de São Paulo que poderiam alugar máquinas injetoras de resina para fazer os prismas. Seriam necessários 12 Kg de policarbonato por metro quadrado e o metro quadrado da construção sairia por aproximadamente R$ 160.

“Escolhi o policarbonato por ser uma resina resistente, que é usada pela Polícia Militar de choque nos escudos de proteção. Um escudo de 3mm de policarbonato resiste a um disparo de revolver calibre 38, segundo a fábrica. Um vidro à prova de balas de 10mm de policarbonato segura o disparo de fuzil AR-15”, conta Marinho.

Com relação ao calor que poderia fazer dentro de uma construção de plástico, o inventor garante que a superfície for opaca e não deixar os raios solares passarem, não há tanto risco. Outra idéia seria usar técnica de refrigeração por energia solar elaborada pelo tenente coronel Nehemias Lima Lacerda do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), localizado em São José dos Campos (São Paulo).

Nehemias relata que só terminará de desenvolver a novidade em 1999. Diz ter conhecido o projeto de Marinho e achá-lo viável. ”É necessário, no entanto, fazer um estudo aprofundado e um modelo para checagem.

Em busca de apoio financeiro, Marinho apresentou seu projeto ao secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, embaixador Oscar Souto Lorenzo Fernandez. “O Marinho tem um invento muito inovador, mas o governo federal não pode financiá-lo. O ideal seria que ele procurasse apoio na iniciativa privada”, afirma Fernandez. O embaixador lembra também que sem demonstrações de campo completas não há como avaliar a relação custo-benefício.

Tags: