A manjedoura do vizinho

O Norte – João Pessoa, quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2000

WJ Solha

O filme “A Vida de Brian” – de Terry Jones – conta a estória de um sujeito que teria nascido na manjedoura vizinha à de Jesus. Nela, há uma passagem sacaníssima de colonialista, mas nem por isso menos hilariante, em que – numa reunião do Movimento Pela Libertação da Palestina – o orador esculhamba com os romanos, dizendo que sugavam todas as riquezas do país, sem nada lhe dar em troca, ao que Brian pede um aparte:

– Fizeram os aquedutos – ressalva.

– Certo – admite o outro – Os imperialistas romanos levam tudo que é nosso e – fora os aquedutos – nunca nos deram nada em troco.

– Fizeram os esgotos – Brian acrescenta.

– Certo – recomeça o outro – Fora os aquedutos e os esgotos…

– Fizeram as termas.

– Certo: fora os aquedutos, esgotos e as termas… E a coisa vai por aí. Esse é o BRASIL 500 ANOS que se pretende comemorar revendo “True Lies” pela DirecTV num Toshiba, saboreando big-mac com Coca-Cola, ar condicionado da Philco ligado.

Reginaldo Marinho, paraibano, me contou por telefone que andou, também, pedindo aparte na cena de “A Vida de Brian” – versão Brasil – que foi encontrar naquela moderna Jerusalém, que é Brasília, pra falar de seu Construcell, mas o Governo não quis ouvi-lo.

Quatro conferências na UnB. Nada. “Então resolvi protocolar, em 24 de agosto de 1999, um documento oferecendo oficialmente – para ser usada no pavilhão do Brasil na Expo 2000, em Hannover – a revolucionária tecnologia que desenvolvi, com pedido de patente em 32 países”. “A engenharia conhece – ele explica – apenas três modalidades de estruturas: de madeira, metálica e de concreto”.

A dele será de plástico, permitindo a construção rápida de grandes vãos – sem colunas internas – cobertura transparente, com as vantagens das características mecânicas e físicas do policarbonato, resultando em edificações seguras, leves e belas – para ginásios de esportes, hangares, armazéns, galpões industriais, silos, estufas para piscicultura, centros de convenções, espaços culturais, templos – em especial projetos envolvendo energia solar.

Ou o Governo prova que essa invenção – digna de quem nasceu na manjedoura vizinha – é inviável, ou fica provado que inviável é ele próprio – Governo. Sem tirar nem pôr.

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