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08/10/2009

Construções celulares

Construções celulares. Por mais complicada que a denominação pareça, não é preciso ter profundos conhecimentos científicos para compreender a magnitude da idéia do paraibano Reginaldo Marinho. De forma simples, porém genial, ele desenvolveu uma estrutura inédita no mundo para a construção de grandes vãos sem usar nenhuma estrutura metálica ou de concreto, com as características de cascas cilíndricas que utilizam plástico e resina. Com utilidade para os mais diversos fins, que vai desde a cobertura de parques industriais e estádios de futebol (inclusive para a Copa do Mundo que será no Brasil) até a construção de estufas ecológicas, a estrutura foi criada há 10 anos e só agora é formalmente reconhecida após ser selecionada no edital do Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia que visa apoiar as empresas que desenvolvem produtos e soluções inovadores.

A construção celular, chamada pelo inventor de Construcell, transforma as pesadas e complexas coberturas metálicas tradicionais de ginásios, por exemplo, em uma estrutura de plástico, leve, resistente, econômica, móvel, fácil de montar e ecológica. Pode ser definida da seguinte forma: o ‘esqueleto’ que sustenta a cobertura, passa a ser composto pelo plástico, material usado nos diversos módulos triangulares que são montados e presos por parafusos para dar suporte a uma espécie de grande folha de resina (que pode ser produzida com o material da reciclagem de garrafas Pet) que vai fazer a cobertura do ‘esqueleto’.

Verba federal de R$ 120 mil para execução do projeto

Os módulos só existem em forma de projeto e maquete, nunca foram produzidos, pois mesmo tendo sido apresentado há 10 anos e ganho dois prêmios internacionais, a invenção genuinamente paraibana só veio ser reconhecida no Brasil esse ano. A Construcell rendeu ao pesquisador medalhas de ouro no 28º Salão de Invenções de Genebra (Suíça) e na BBC Tomorrow’s World Live (Londres), respectivamente em abril e em junho de 2000. Reconhecido internacionalmente, ele chegou a receber propostas de produção da estrutura na Itália, mas sob o argumento de ter sido, segundo ele, “rejeitado” pelo seu país, a proposta italiana não ofereceu nenhuma contrapartida financeira e ele não achou justo que fosse feita uma doação do projeto.

“Foram anos de portas fechadas aqui no Brasil. Durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso perdi as contas da quantidade de vezes que ouvi ‘não’ quando procurei apoio para o projeto, indo assim buscar esse reconhecimento lá fora. No Brasil temos a cultura de não dar valor ao que é nosso, de achar que não temos a capacidade de ter nossas próprias invenções e apenas copiar o que os países mais desenvolvidos produzem. Essa mentalidade faz com que muitos bons trabalhos sejam renegados”, disse Marinho.

Após anos de luta pelo reconhecimento, o inventor conseguiu recentemente apoio importante rumo a produção do seu projeto. Além de oferecer curso de capacitação para o aprimoramento dos planos de negócios apresentados pelas empresas, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que coordena essa ação, disponibilizará uma verba não reembolsável no valor de R$ 120 mil para a execução dos projetos.

Mundo transparente

Com notícia que recebeu sobre a reforma que o Governo do Estado vai implementar no Jardim Botânico Benjamim Maranhão, Marinho diz que “aproveitando essa sinergia nascida no Prime, o Jardim Botânico poderia abrigar a primeira construção do mundo totalmente transparente, sendo aplicada para uma estufa totalmente ambiental, motivando a visitação ao Jardim Botânico e valorizando o turismo local.

Outra idéia do inventor é sugerir ao senador Roberto Cavalcanti a criação de uma lei que estimule a geração de novas tecnologias no Brasil. A lei poderia contemplar com isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI), durante a vigência da patente, os produtos patenteados ou com a tramitação no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

“Essa seria uma maneira de integrar o Brasil às nações que investem massiçamente em tecnologia gerando riquezas para o nosso país, sendo tecnologia a atividade que gera mais divisas em todo o mundo”, diz o inventor.

Renascimento

Reginaldo Marinho se considera um “renascentista pós-moderno, que trabalha com arte, ciência e tecnológica”. Nascido em Sapé, ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), aos 17 anos. Aos 18 foi contratado para dar aulas de geometria descritiva e abandonou o curso no 3º ano. Foi para Brasília, onde estudou arquitetura na UnB, encontrando a universidade totalmente desfalcada de seus melhores professores, após a invasão de 1968, em pleno regime militar. Outra vez desencantado com o mundo acadêmico, deixou o curso e foi dedicar-se à publicidade. Atuou como fotógrafo e jornalista e é membro da Associação Brasileira de Jornalismo Científico.

Autodidata nas profissões que escolheu, Marinho não se formou em nenhum curso superior, mas em meio a um trabalho científico e artístico tem dado consideráveis contribuições para a sociedade. Quando indagado sobre a inspiração para suas invenções, ele não uma explicação objetiva e prática como seria o esperado de quem demonstra conhecimentos técnicos. Com idéias que aliam geometria, engenharia e uma sensibilidade artística de assustar, ele responde de maneira direta que as idéias simplesmente fluem, aparecem, florescem, sem explicação. “Muitas coisas aprendi fazendo; outras foram executadas sem que houvesse nenhum esforço, puro impulso ou absoluta harmonia”, explica Marinho.

Fonte: Renata Escarião – PortalCorreio/ Ascom/Crea-PB
Domingo, 27 de Setembro de 2009